Bate-boca de dirigente às vésperas de um clássico não é exatamente uma novidade no futebol brasileiro. Mas a pergunta que talvez tenha que ser feita é: esse pega verbal colabora para a violência nos estádios? A discussão da vez começou porque, para o jogo deste domingo, entre São Paulo e Corinthians, a diretoria do time tricolor fez valer a lei para disponibilizar apenas 10% da carga de ingressos no Morumbi para a coletividade alvinegra. A medida repercutiu. Enquanto o São Paulo defende seu direito, o Corinthians promete o revide quando o mando de campo for seu.
E farpas entre um e outro começaram a ser trocadas através dos mais variados veículos de comunicação. Cartolas vão a TV e discutem calorosamente, são citados em jornais com declarações agressivas, falam às rádios de forma contundente, repercutem em sites de forma nervosa, espetam-se mutuamente usando uma verdadeira artilharia de palavras ácidas. E o pontapé inicial do clássico está dado.
Há quem acredite que a polêmica extra é bem-vinda para incrementar o duelo. Será? Ou será que o torcedor, assistindo a tudo isso de casa, começa a entrar no jogo, e aceita a temperatura que está sendo oferecida pelos cartolas?
Para o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac, há 15 anos envolvido com o futebol, a provocação entre jogadores e o bate-boca de dirigentes estraga o espetáculo, que é aguardado pelos torcedores desde a divulgação da tabela do campeonato.
"Ninguém ganha com isso. É um fato que empobrece o futebol, ao contrário do que muita gente pensa. Dizem que apimenta o jogo, e apimenta sim, mas social e emocionalmente em péssimo sentido", comentou.
E ele não pára por aí. "Essas discussões cheias de acusações estimulam a possibilidade de haver mais brigas, aqueles confrontos programados via internet, no metrô e nas intermediações do estádio. Os dirigentes precisam ter um pouco mais de responsabilidade social. Esse é o termo mesmo, porque eles não têm a noção da profundidade que esse tipo de bate-boca pode gerar entre boa parte da torcida, que é apaixonada", disse.
E, com base em sua experiência, alerta: "já vi dirigentes que publicamente se odeiam, mas que, particularmente, são amigos, jantam juntos. O futebol é um grande show, onde, infelizmente, muitas vezes o torcedor acaba sendo o espectador de uma trama formada por atores que estão ali pensando no enriquecimento do cofre de seus clubes. Para isso, montam de forma irresponsável algumas situações em que é colocado em risco o bem-estar e a saúde das pessoas que pagam para assistir ao espetáculo".
Por esse raciocínio, o torcedor é sugado para dentro de um ambiente hostil instintivamente. "O torcedor absorve as declarações de forma inconsciente. O time é a paixão projetada das dificuldades afetivas, nas dificuldades do cotidiano", diz Cozac.
Mas tem quem entenda diferente. Segundo o cientista social José Paulo Florenzano, esse tipo de discussão pública é essencial. "Quanto mais pessoas envolvidas na discussão, melhor. O debate transparente, essa apresentação de idéias, é um antídoto contra a violência. O que talvez possa ser ruim é a forma como o debate é conduzido", afirma.
Só que Cozac acredita que os desentendimentos públicos acabam misturando na cabeça do torcedor os conceitos de inimizade e de rivalidade, e aí é que a coisa começa a ficar perigosa. "O torcedor fica sem entender a diferença entre inimizade e rivalidade. E essa confusão, de modo inconsciente, às vezes gera violência, e pode até acabar em morte. É questão de instinto, essa é a palavra-chave".
Florenzano, professor da PUC-SP e pesquisador na área de antropologia do esporte, com ênfase em temas como rebeldia e relações de poder, continua com o contraponto. "Não há como estabelecer uma relação de causa-efeito entre o debate público e uma eventual briga de torcedores. O debate, na verdade, é apenas a superfície de um problema mais amplo".
Mas Cozac, que já trabalhou com o departamento de futebol de Goiás, Cruzeiro e Palmeiras, não concorda. "O torcedor vai ao estádio depois de passar cinco, seis dias sendo bombardeado por um clima de rivalidade. É pouco provável que esse indivíduo vá ter um comportamento socialmente desejável, já que está em um limiar de instabilidade bastante perigoso".
E sugere: "os meios de imprensa, os dirigentes, toda a cultura e folclore do futebol deveriam ser revistos. É preciso ter responsabilidade social diante do torcedor. Isso envolve educação, consideração, respeito ao estatuto do torcedor, estimula a presença de famílias nos estádios, e combate a violência. O momento do ser humano é caótico, e isso muitas vezes é descontado em praças esportivas". E nesse jogo, evidentemente, não há vencedores.
E farpas entre um e outro começaram a ser trocadas através dos mais variados veículos de comunicação. Cartolas vão a TV e discutem calorosamente, são citados em jornais com declarações agressivas, falam às rádios de forma contundente, repercutem em sites de forma nervosa, espetam-se mutuamente usando uma verdadeira artilharia de palavras ácidas. E o pontapé inicial do clássico está dado.
Há quem acredite que a polêmica extra é bem-vinda para incrementar o duelo. Será? Ou será que o torcedor, assistindo a tudo isso de casa, começa a entrar no jogo, e aceita a temperatura que está sendo oferecida pelos cartolas?
Para o psicólogo do esporte João Ricardo Cozac, há 15 anos envolvido com o futebol, a provocação entre jogadores e o bate-boca de dirigentes estraga o espetáculo, que é aguardado pelos torcedores desde a divulgação da tabela do campeonato.
"Ninguém ganha com isso. É um fato que empobrece o futebol, ao contrário do que muita gente pensa. Dizem que apimenta o jogo, e apimenta sim, mas social e emocionalmente em péssimo sentido", comentou.
E ele não pára por aí. "Essas discussões cheias de acusações estimulam a possibilidade de haver mais brigas, aqueles confrontos programados via internet, no metrô e nas intermediações do estádio. Os dirigentes precisam ter um pouco mais de responsabilidade social. Esse é o termo mesmo, porque eles não têm a noção da profundidade que esse tipo de bate-boca pode gerar entre boa parte da torcida, que é apaixonada", disse.
E, com base em sua experiência, alerta: "já vi dirigentes que publicamente se odeiam, mas que, particularmente, são amigos, jantam juntos. O futebol é um grande show, onde, infelizmente, muitas vezes o torcedor acaba sendo o espectador de uma trama formada por atores que estão ali pensando no enriquecimento do cofre de seus clubes. Para isso, montam de forma irresponsável algumas situações em que é colocado em risco o bem-estar e a saúde das pessoas que pagam para assistir ao espetáculo".
Por esse raciocínio, o torcedor é sugado para dentro de um ambiente hostil instintivamente. "O torcedor absorve as declarações de forma inconsciente. O time é a paixão projetada das dificuldades afetivas, nas dificuldades do cotidiano", diz Cozac.
Mas tem quem entenda diferente. Segundo o cientista social José Paulo Florenzano, esse tipo de discussão pública é essencial. "Quanto mais pessoas envolvidas na discussão, melhor. O debate transparente, essa apresentação de idéias, é um antídoto contra a violência. O que talvez possa ser ruim é a forma como o debate é conduzido", afirma.
Só que Cozac acredita que os desentendimentos públicos acabam misturando na cabeça do torcedor os conceitos de inimizade e de rivalidade, e aí é que a coisa começa a ficar perigosa. "O torcedor fica sem entender a diferença entre inimizade e rivalidade. E essa confusão, de modo inconsciente, às vezes gera violência, e pode até acabar em morte. É questão de instinto, essa é a palavra-chave".
Florenzano, professor da PUC-SP e pesquisador na área de antropologia do esporte, com ênfase em temas como rebeldia e relações de poder, continua com o contraponto. "Não há como estabelecer uma relação de causa-efeito entre o debate público e uma eventual briga de torcedores. O debate, na verdade, é apenas a superfície de um problema mais amplo".
Mas Cozac, que já trabalhou com o departamento de futebol de Goiás, Cruzeiro e Palmeiras, não concorda. "O torcedor vai ao estádio depois de passar cinco, seis dias sendo bombardeado por um clima de rivalidade. É pouco provável que esse indivíduo vá ter um comportamento socialmente desejável, já que está em um limiar de instabilidade bastante perigoso".
E sugere: "os meios de imprensa, os dirigentes, toda a cultura e folclore do futebol deveriam ser revistos. É preciso ter responsabilidade social diante do torcedor. Isso envolve educação, consideração, respeito ao estatuto do torcedor, estimula a presença de famílias nos estádios, e combate a violência. O momento do ser humano é caótico, e isso muitas vezes é descontado em praças esportivas". E nesse jogo, evidentemente, não há vencedores.
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