"Tinha algo guardado para mim". Essa é a frase de Muricy Ramalho para explicar o motivo de não ter aceitado uma proposta financeiramente indecorosa de um clube do Qatar, justamente quando o São Paulo estava a 11 pontos do então líder Grêmio , no Brasileiro. Pela torcida e por Juvenal Juvêncio, o treinador decidiu ficar. Com contrato até o fim de 2009, pode permanecer ainda mais, já que o presidente tem a intenção de renovar o contrato dele antes do início da próxima temporada. E, se acontecer, ele quer aceitar. Mas, por enquanto, curte as férias no Guarujá.



- Esse foi o ano que fiquei mais valorizado. Recebi uma proposta mesmo, não foi convite ou consulta. Agora vim para a praia e não quero nem saber, preciso desligar um pouco, senão piro. Tem pessoas que cuidam das minhas coisas. A minha intenção é permanecer. Vamos ver se o seu Juvenal coopera e dá um aumento pra eu comprar mais um pouquinho de leite para os meus filhos (risos) - brinca o treinador.
Se Juvenal seguir a cartilha dos últimos anos, e esta é a intenção dele, deve oferecer a Muricy mais um ano de contrato, renovando até o fim de 2010. E, com isso, um aumento. O comandante não parece preocupado com dinheiro, mas há a valorização natural do trabalho de um tricampeão consecutivo. O último título era justamente o que estava guardado para treinador e que o fez desistir do Qatar, contrariando até a família.

- Minha família estava um pouco chateada pelas críticas, que aconteciam até dentro do clube. E eles questionavam se eu ficaria com essa dificuldade toda, lembravam que poderíamos morar fora do país um pouco, conhecer outra cultura. Mas eu disse que tinha que ficar porque alguma coisa estava reservada para mim. A parte financeira era um absurdo, poderia encurtar a carreira, mas não era isso que eu queria. Acreditei no São Paulo e deu certo - explica o técnico.

Muricy chegou ao Tricolor Paulista em 2006, logo após o time ser campeão do Mundial no ano anterior, com Paulo Autuori. E acumulou três títulos brasileiros, levando o clube a chegar ao número de seis campeonatos nacionais na história. Depois de três anos, ele tem mais um a cumprir e outro possível para acrescentar. Este longo período é raridade no país, mas Muricy acha que a mentalidade dos dirigentes brasileiros está mudando.



- Eu ficar aqui tanto tempo ajuda a mudar isso, e a própria imprensa contribui com a opinião de que a continuidade faz o clube melhorar. Os dirigentes escutam e mantêm os treinadores. Isto é uma vantagem. Não gosto de mudar muito porque o trabalho não fica consistente - completa.