A questão é que toda essa exposição veio em um jogo que também deixou claros os problemas do canal na comparação com concorrentes que também mostram futebol. E que não podem ser abafados pelo resultado na audiência.
A transmissão de um jogo de futebol entre clubes brasileiros com exclusividade fora da Globo foi algo raríssimo por duas décadas no Brasil. Clássicos, então, mais raros ainda. Com as transformações recentes nos direitos de transmissão, canais como SBT, Band e Record passaram a ter essas chances.
No caso da Record, algumas novidades foram implantadas desde o ano passado, como a transmissão alternativa com pegada humorística no portal R7, comandada por um dos maiores narradores da história da televisão brasileira, Silvio Luiz, que se juntou aos humoristas Carioca e Bola nessa missão. Na TV, o repórter Márcio Canuto, nome histórico da Globo, também apareceu como aposta para deixar as jornadas mais descontraídas. Até aí, tudo bem.
O problema é que a Record não faz grande esforço para se destacar como emissora que transmite futebol. O clássico de hoje teve transmissão colocada no ar faltando poucos minutos para o apito inicial no Allianz Parque. Uma atitude pela qual a Globo foi criticada por anos. Nas transmissões da Libertadores, o SBT sempre começava pelo menos 15 minutos antes das partidas. A Band no Carioca faz um pré-jogo até maior.
E é justamente o trabalho da Band no estadual do Rio de Janeiro que expõe muito a diferença entre uma emissora com tradição contínua no esporte e um canal que tenta de forma ainda tímida recuperar os velhos tempos de transmissões no futebol. O Cariocão era um evento da Record até o ano passado, mas em nenhuma das duas temporadas teve o tratamento que tem recebido agora do canal do Morumbi.
Questões relacionadas à qualidade das imagens não devem ser importantes na comparação entre os canais. Paulistão e Carioca têm transmissões geradas pelas respectivas federações estaduais para todos os detentores de direitos. A Band foi criticada nas redes sociais pela imagem do jogo do Flamengo contra o Nova Iguaçu no sábado (21), por exemplo.
A comparação que esta coluna faz é em relação ao peso que cada evento parece ter dentro de cada emissora. A Record se dá ao luxo de começar em cima da hora a transmissão de um de seus jogos mais importantes na temporada, não envia equipe completa a um estádio que fica a poucos quilômetros de sua sede, e ainda com alguns problemas de sinal que não se repetiram no Premiere e nem no Paulistão Play, outros detentores da competição e do jogo.
O PPV da Globo, aliás, teve seu time completo de narração e comentários em uma cabine no Allianz Parque mesmo não sendo este um jogo exclusivo de meios pagos. A Band, no Cariocão, tem levado seus narradores e comentaristas para os estádios até em jogos realizados no Espírito Santo. Para quem acha isso um "detalhe", a presença nos locais dos jogos é fundamental para que o narrador não dependa apenas do sinal que é gerado na transmissão oficial para ter alguns detalhes da partida.
Em dado momento, no segundo tempo, o Palmeiras teve um lance de ataque em posição de impedimento que foi assinalada pela assistente Neuza Inês Back assim que a bola saiu. Como a geração oficial não pegou esse detalhe, a transmissão da Record disse que a auxiliar não levou a bandeira e que o VAR "salvaria" em caso de gol. O time do Premiere, presente no Allianz Parque, informou corretamente que a bandeira já apontava a posição irregular.
É claro que fazer um jogo com time completo no estádio é algo que custa mais do que manter seus narradores e comentaristas no estúdio da emissora. O SBT fez pouquíssimos jogos "in loco" na Libertadores, mas sempre as finais e até os dois Corinthians x Flamengo do ano passado por entender o peso dessas partidas. A Record não precisa mandar a equipe em todas as partidas, mas não fazer isso nem nos clássicos que acontecem na mesma cidade dela não pega bem.
A Record ainda terá mais 13 jogos para transmitir neste Paulistão, e mantém sob contrato as duas próximas edições do torneio com exclusividade em TV aberta. Tempo para mexer no que não funcionou até agora há, sim, mas é preciso não deixar que a manchete fácil da vitória sobre a Globo em SP com um clássico paulista não crie um clima de "tudo está andando muito bem". Porque não está.
São Paulo, Vitória, Falha, Record, SPFC
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