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OPINIÃO: Minha inveja dos são-paulinos tem o sobrenome do Sócrates. E o nome Raí

Raí fez o 'L' durante a apresentação do 'Prêmio Sócrates' na Bola de Ouro
Imagem: Reprodução/Ballon D'or


Como eu morro de medo de imbecis, ignorantes e intolerantes que não sabem conviver em sociedade e não respeitam o time de coração alheio, eu jamais revelo que sou corinthiano, maloqueiro e sofredor, graças a Deus, do tipo que deu o sacro nome de Basílio ao filho e o batizou na capela São Jorge, dentro da sede social do time do povo, com a ilustre presença do verdadeiro Pé de Anjo, aquele que comemorou o gol mais importante da história da humanidade em 13 de outubro de 1977 com os punhos cerrados levantados, à Panteras Negras.



Se não posso contar que sou corinthiano, não digo também, nem sob tortura (prática abjeta da qual o atual presidente é apologista), que a Democracia Corinthiana liderada por Sócrates (o craque mais emblemático da rica, plural e secular história alvinegra) é o meu motivo de maior orgulho do meu clube.


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Títulos e derrotas marcantes, sucessos e fracassos, superações e tropeços fazem parte do currículo de todo grande clube, mas ter a popularidade de sua camisa emprestada à causa da democracia e à luta contra a ditadura canalha e ignóbil é orgulho nosso.

Aliás, mais que ter orgulho, sinto gratidão! Eu sou grato ao time do Sócrates por me fazer, desde muito criança, a ter curiosidade sobre o que é democracia. Nascido em uma família de classe média paulistana, majoritariamente de direita, foi o Corinthians, primeiro, que me despertou o amor hoje maduro, genuíno, adotado e eterno pela zona leste, foi o time da Democracia Corinthiana quem primeiro me ensinou valores antirracistas, antielitistas e quem começou a moldar meu coração sempre do lado esquerdo do peito.

Dito tudo isso, esse enorme nariz de cera é para registrar que todo torcedor, e não sou diferente, tem orgulho de ver quem admira em sua trincheira e vergonha de ver seres desprezíveis do seu lado e não é exclusividade de nenhuma torcida, nem da minha nem de nenhuma, ter do seu lado todos os seres humanos decentes.

Se eu pudesse revelar que sou corinthiano, maloqueiro e sofredor, diria com todas as letras que Sócrates Brasileiro é o maior orgulho que tenho do meu time. Ele, sozinho, é muito maior que figuras pequenas como Wadhi Helu, Mané da Carne e reaças desprezíveis similares.

E, dentre todos não corinthianos, quem eu gostaria muito que fosse corinthiano é Raí. Ele não é "só" o irmão caçula do Doutor, ele é gigante. Como o irmão, gigantismo que extrapola em muito as quatro linhas, grandeza que não se deixa influenciar pela sua ótima situação financeira para brigar e pensar nos menos favorecidos.

Da série "viva a memória", como corinthiano, ops, esqueci que não posso revelar meu time, tive duas grandes alegrias no estádio torcendo contra Raí, a final do Brasileiro de 1990 e a semifinal do Brasileiro de 199, quando o irmão do Magrão foi superado por Dida e perdeu dois pênaltis; e tive duas grandes tristezas, a final do Paulista de 1991, quando Raí acabou com o jogo e fez três gols (a maior atuação de um adversário contra o meu time que eu presenciei) e a decisão do Paulista de 1998, quando Raí voltou de Paris para dar o título ao seu Tricolor.

Ao lembrar do irmão ao fazer o "L" na cerimônia da Bola de Ouro, o "L" contra a ignomínia, o "L" contra a estupidez, o "L" contra todos os preconceitos, o "L" contra todos os desvalores do desgoverno que enterrou 700 mil pessoas na pandemia que tratou por "gripezinha", Raí fez mais um golaço; no meu gosto, o maior deles.



Se Sócrates é o motivo do maior orgulho do meu time, Raí é o motivo da minha maior inveja em relação ao São Paulo da minha mãe Maria Dolores. Dentro todos os jogadores que eu vi atuar nas equipes rivais, se eu pudesse escolher só um para poder dizer que ele é corinthiano, escolheria Raí. Obrigado, craque, pela luta. Amanhã há de ser um novo dia!

são-paulinos, sobrenome, Sócrates, Raí

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