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Debate pobre, ignorância rica: por que demonizamos o alto investimento no futebol?

Por Alexandre Guariglia

Investimento não obriga a vencer e não deveria ser usado negativamente para explicar o fracasso (Foto: Montagem/Ag. Palmeiras/Photo Premium)

Eu sou daqueles que acham que não se faz futebol sem dinheiro. Esse meu radicalismo, porém, tem diminuído ao longo dos anos, principalmente quando o próprio futebol mostra o contrário. Hoje eu penso que até dá para fazer, mas ficaria muito mais fácil com os cofres cheios. O importante é achar uma forma de ganhar, desde que honesta, seja ela jogando bonito, jogando feio, sendo um clube rico, sendo um clube “pobre”.



O que me incomoda, na verdade, é a tentativa de criminalização de gastos, ou seja, quando um clube que investe muito e não atinge bons resultados, alguns desonestos estão prontos para ridicularizar com frases canalhas como “Gastou tanto para isso?” ou “De que adianta ter dinheiro e não ganhar?”. E a gente sabe que se tal clube obtivesse sucesso o comentário seria “Com tanto dinheiro, era obrigação ganhar” ou “Assim fica fácil, quero ver ganhar sem dinheiro”.

Na boca de um torcedor, os comentários são aceitáveis, faz parte da paixão, da provocação, é do jogo, mas quando parte do analista, pago para exercer essa função, a situação soa diferente. Tais atitudes dão a entender que o profissional está torcendo para o insucesso e aproveita o momento para jogar sua satisfação pessoal para a esfera pública, mas sempre sob o argumento da isenção.

Fica difícil entender como as pessoas acham errado um clube, com dinheiro e condições de arcar as depesas, investir pesado na contratação de jogadores em busca de reforçar o seu elenco. Que eu saiba é assim que o futebol funciona, seja aqui, na Europa, na Ásia, nos EUA, na África, na Oceania… A gastança, porém, não significa ganhar todos os jogos, todos os títulos, marcar 200 gols por ano, não ser vazado…

Eu, você leitor, o colega jornalista, e todos os amantes do esporte, sabem que o futebol é muito imprevisível, não há uma fórmula pronta, muitos fatores interferem nos resultados: o psicológico, o climático, a arbitragem, a sorte, o azar, o comando técnico, a gestão de vestiário, a competência do adversário…

Cair no discurso pronto e simplista de creditar o fracasso na conta dos gastos, fazendo listas de quanto se paga para cada jogador, quanto foi gasto durante o ano, entre outros artificios, é menosprezar um esporte tão complexo como o futebol, que dá a oportunidade de se analisar inúmeras variáveis dentro do jogo.

Talvez seja por isso que as grandes empresas investem tão pouco nos clubes, ou desistem de parcerias que poderiam ser vantajosas para ambos, justamente porque a discussão é muito rasa e os clubes tendem a usar a reformulação como solução para os ‘fracassos’ ecoados por analistas e comprado por torcedores.

Basta pegar como exemplo os clubes ricos na Europa. Apesar de não terem atingido seus objetivos principais na temporada (conquistar a Liga dos Campeões), PSG e Manchester City não pensam em desistir de gastar após a decepção nas últimas competições continentais, pelo contrário, eles vão voltar a investir no mercado em busca da meta, no máximo irão trocar o comando técnico e substituir alguns jogadores, mas a política de investimentos permanecerá a mesma.

Isso só para citar aqueles que têm sido os mais agressivos nas janelas de transferência, sem excluir Barcelona, Chelsea, Manchester United, entre outros. A diferença é que lá muitos têm um poder financeiro privilegiado, então o fracasso ou o sucesso são encarados com naturalidade e como muito menos desonestidade intelectual que no Brasil, onde poucos conseguem investir e, se investem, fazem dívidas.

Não é novidade para ninguém que o Palmeiras tem sido o maior alvo dessas análises oportunistas, pois é o clube que, na teoria, mais investe em contratações e não teria conquistado títulos na mesma proporção. Não acho que uma conquista de Copa do Brasil e um Campeonato Brasileiro sejam fracassos, mas entenderia se a crítica fosse direcionada ao padrão de jogo do time, que ainda não foi encontrado nesses anos de vacas gordas.

O São Paulo, há alguns anos sem dísputar títulos e em constante má fase, investiu pesado em contratações para 2018, na tentativa de dar uma chacoalhada no elenco e voltar a ser competitivo. Opção, ao meu ver, bastante justa, mas que não exclui a possibilidade de dar errado. O torcedor são-paulino já entende que o problema não é gastar pouco ou muito, mas sim a gestão, cada vez mais desgastada e com acúmulo de erros.

No entanto, com exceção dos torcedores do clube, poucos traçaram o paralelo “gastos x resultados” após a eliminação na Copa do Brasil e, se traçaram, foram tão desonestos quanto aqueles que usam do mesmo expediente para falar do Palmeiras. O que vale mais? A ação ou a omissão? A ousadia de trazer Hernanes no ano passado acabou salvando o time de um rebaixamento no Brasileirão, mas o jogador não permaneceu e algo precisava ser feito.

Essa mania feia que temos de fazer uma disputa entre ricos e pobres (não só no futebol), somente empobrece a discussão e enriquece a ignorância, ninguém ganha com isso. Por que não procuramos maneiras de todos faturarem alto e deixamos de demonizar quem tem mais do que os outros? Por que não criamos regras que obriguem todos os clubes a pagarem em dia suas dívidas e pendências? Por que não pensamos em medidas que façam com que a saúde financeira venha antes do que a vitória a qualquer preço?

A qualificação das discussões começa do lado de cá da bancada, dos formadores de opinião. Se nós formos aqueles que empobrecem o debate com argumentos canalhas como os citados acima, estamos apenas contribuindo para que o futebol fique pior do que já está. Criminalizar o alto investimento do clube A ou B, é forçar que se dê vários passos para trás no desenvolvimento do esporte.

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