Gustavo Vieira (esquerda) e Raí (direita): sobrinho e tio comandam futebol de Santos e São Paulo (Foto: Lia Gurjão/Rai+Velasco)
O clássico entre São Paulo e Santos, neste domingo, às 17h, no Morumbi, pelo Paulistão, também será questão de família. Dos Vieira de Oliveira, no caso. Raí, tio, e Gustavo, sobrinho, são os principais responsáveis pelo futebol de São Paulo e Santos, respectivamente. O duelo agita os bastidores entre os parentes.
Contratados no início do ano, eles tentam superar as perdas de protagonistas e a impaciência das torcidas, mas não deixam que a necessidade de vitória afete o carinho familiar.
O doutor Sócrates, falecido em 2011, foi o elo. Irmão de Raí e pai de Gustavo. Tio e sobrinho sempre foram próximos. É um traço de toda a família, aliás, que muitas vezes se junta nos finais de ano em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
– É mesmo uma situação curiosa e rara. Mas, para mim, não tão nova. Sou um dos maiores ídolos do Tricolor e tenho meu irmão, pai do Gustavo, como grande ídolo do Corinthians. Fico feliz em ver mais um membro da família valorizado em sua profissão. Mas espero ser vitorioso na minha nova função, como fui como jogador. Para isso terei que vencer batalhas contra o clube dele – afirmou Raí, via assessoria de imprensa do São Paulo.
Há poucas semanas, Raí esteve no aniversário de Gustavo, que, fisicamente, lembra muito o tio. Nessas conversas, eles conseguem evitar o futebol.
– Sempre conversamos muito sobre futebol, antes de nossas atuais funções. Porém, depois deste fato, raramente falamos do assunto – disse Raí.
Gustavo teve duas passagens como executivo de futebol do São Paulo. Em ambas, ele se aconselhou com Raí, mas foi derrotado pela política. Primeiro, quando Carlos Miguel Aidar era presidente, e eles não se gostavam. Depois, já na gestão de Leco, acabou saindo por pressão de torcedores e conselheiros.
Agora no comando do Santos, Gustavo tem a confiança do presidente José Carlos Peres, eleito em dezembro, para gerir o futebol alvinegro.
Raí, um dos maiores vencedores da história tricolor, goza de prestígio muito maior do que o sobrinho para suportar a pressão no São Paulo. A ânsia da torcida por títulos não atinge, pelo menos nesse início de temporada, a imagem do antigo capitão e ídolo.
Raí, Raímar e filhos de Sócrates em inauguração de estátua do Doutor no estádio Santa Cruz (Foto: Fabrício Fiacadori)
Chegadas, saídas e cobrança a Cueva
Raí substituiu Vinicius Pinotti no cargo de diretor-executivo do São Paulo em dezembro. Antes ele era membro do Conselho de Administração do clube e acompanhava os passos da gestão.
Na nova função, convidou o ex-companheiro Ricardo Rocha para virar coordenador de futebol. Os dois ganharam recentemente a companhia de Lugano, superintendente de relações institucionais.
Logo no início, Raí teve de gerenciar situações complicadas: a venda de Lucas Pratto ao River Plate, e o retorno de Hernanes por empréstimo ao Hebei Fortune, da China.
O obstáculo mais grave até agora, no entanto, foi o caso Cueva. O peruano se atrasou para a pré-temporada, foi multado, pediu para não ser relacionado em um jogo, pois havia recebido uma proposta para sair, e gerou mal-estar internamente.
Raí foi o principal responsável por conduzir e contornar a situação. Ele colocou publicamente em xeque o comprometimento de Cueva com o São Paulo, teve conversas francas e diretas com o peruano, e agora vê o meia retomar a condição de protagonista dentro de campo.
O executivo também trabalhou nas contratações de seis reforços para o São Paulo: o goleiro Jean (a conversa havia sido iniciada por Pinotti), o zagueiro Anderson Martins, o meia-atacante Nenê, e os atacantes Tréllez, Diego Souza e Valdívia (empréstimo). Ele teve o auxílio do gerente Alexandre Pássaro nas negociações.
Curiosamente, o São Paulo tem interesse na contratação de um jogador do Santos. Por indicação do técnico Dorival Júnior, o Tricolor está de olho no lateral-direito Victor Ferraz, em baixa na Vila Belmiro. Como os clubes estão "em família", as conversas podem acontecer com mais tranquilidade.
– Nenhuma negociação será facilitada por nossa relação familiar, porque obviamente estaremos pensando em defender os interesses dos nossos clubes respectivos. O que pode acontecer apenas é ter nosso contato direto facilitado – explicou Raí.
Desde que assumiu o cargo de diretor-executivo do Santos, no começo desta temporada, Gustavo tem sido discreto. Suas declarações foram raras e se restringiram às poucas entrevistas coletivas das quais participou. Na apresentação, ao ser questionado sobre o tio Raí, respondeu da seguinte maneira:
– Não sei, faz um mês que não falo com ele. É meu rival – brincou.
Com pouco dinheiro para investir, Gustavo apostou na busca por atletas por empréstimo, como nos casos de Gabigol e Eduardo Sasha, titulares do time, e do lateral-esquerdo Dodô, que ainda depende da aprovação em exames médicos para ser oficializado.
A estratégia, porém, não funcionou com um dos principais alvos do clube, o meia argentino Lucas Zelarayán, do Tigres, do México. A negociação se arrastou por semanas, sem sucesso – os mexicanos só topavam uma transferência definitiva.
Gustavo recebeu grande poder do presidente José Carlos Peres e tem centralizado as decisões do futebol. Tem, em sua estrutura, o ex-zagueiro William Machado como gerente de futebol, além de um gerente administrativo.
Caminhos cruzados
Sócrates ensina os primeiros passos ao filho Gustavo Vieira, atual diretor de futebol do Santos (Foto: Divulgação/CEDOC EPTV Ribeirão)
A ligação entre Raí, Gustavo e Sócrates extrapola o ambiente familiar. O futebol e o jornalismo esportivo também os uniu.
Nos anos 2000, Gustavo foi comentarista da "ESPN Brasil", e Raí exerceu a mesma função na "Record". Hoje, eles dividem a experiência de gerir dois grandes paulistas.
Ao lado do pai Sócrates, Gustavo também escreveu colunas para o jornal "Folha de São Paulo". Raí, por sua vez, foi colunista do "Estado de São Paulo".
Na infância, Gustavo tentou trilhar o caminho do futebol (veja a imagem do ainda garoto ao lado do pai Sócrates). Segundo volante canhoto, ele atuou nas categorias de base do São Paulo e chegou a ser profissional na Portuguesa, mas preferiu a carreira acadêmica. Formou-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), com especialização em Gestão do Esporte pela Fundação Getúlio Vargas.
O GloboEsporte.com procurou o Santos para entrevistar Gustavo, mas não obteve resposta.
Gustavo Vieira na infância: sobrinho de Raí foi executivo do São Paulo e agora comanda o Santos (Foto: Reprodução/EPTV Ribeirão)
O clássico entre São Paulo e Santos, neste domingo, às 17h, no Morumbi, pelo Paulistão, também será questão de família. Dos Vieira de Oliveira, no caso. Raí, tio, e Gustavo, sobrinho, são os principais responsáveis pelo futebol de São Paulo e Santos, respectivamente. O duelo agita os bastidores entre os parentes.
Contratados no início do ano, eles tentam superar as perdas de protagonistas e a impaciência das torcidas, mas não deixam que a necessidade de vitória afete o carinho familiar.
O doutor Sócrates, falecido em 2011, foi o elo. Irmão de Raí e pai de Gustavo. Tio e sobrinho sempre foram próximos. É um traço de toda a família, aliás, que muitas vezes se junta nos finais de ano em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
– É mesmo uma situação curiosa e rara. Mas, para mim, não tão nova. Sou um dos maiores ídolos do Tricolor e tenho meu irmão, pai do Gustavo, como grande ídolo do Corinthians. Fico feliz em ver mais um membro da família valorizado em sua profissão. Mas espero ser vitorioso na minha nova função, como fui como jogador. Para isso terei que vencer batalhas contra o clube dele – afirmou Raí, via assessoria de imprensa do São Paulo.
Há poucas semanas, Raí esteve no aniversário de Gustavo, que, fisicamente, lembra muito o tio. Nessas conversas, eles conseguem evitar o futebol.
– Sempre conversamos muito sobre futebol, antes de nossas atuais funções. Porém, depois deste fato, raramente falamos do assunto – disse Raí.
Gustavo teve duas passagens como executivo de futebol do São Paulo. Em ambas, ele se aconselhou com Raí, mas foi derrotado pela política. Primeiro, quando Carlos Miguel Aidar era presidente, e eles não se gostavam. Depois, já na gestão de Leco, acabou saindo por pressão de torcedores e conselheiros.
Agora no comando do Santos, Gustavo tem a confiança do presidente José Carlos Peres, eleito em dezembro, para gerir o futebol alvinegro.
Raí, um dos maiores vencedores da história tricolor, goza de prestígio muito maior do que o sobrinho para suportar a pressão no São Paulo. A ânsia da torcida por títulos não atinge, pelo menos nesse início de temporada, a imagem do antigo capitão e ídolo.
Raí, Raímar e filhos de Sócrates em inauguração de estátua do Doutor no estádio Santa Cruz (Foto: Fabrício Fiacadori)
Chegadas, saídas e cobrança a Cueva
Raí substituiu Vinicius Pinotti no cargo de diretor-executivo do São Paulo em dezembro. Antes ele era membro do Conselho de Administração do clube e acompanhava os passos da gestão.
Na nova função, convidou o ex-companheiro Ricardo Rocha para virar coordenador de futebol. Os dois ganharam recentemente a companhia de Lugano, superintendente de relações institucionais.
Logo no início, Raí teve de gerenciar situações complicadas: a venda de Lucas Pratto ao River Plate, e o retorno de Hernanes por empréstimo ao Hebei Fortune, da China.
O obstáculo mais grave até agora, no entanto, foi o caso Cueva. O peruano se atrasou para a pré-temporada, foi multado, pediu para não ser relacionado em um jogo, pois havia recebido uma proposta para sair, e gerou mal-estar internamente.
Raí foi o principal responsável por conduzir e contornar a situação. Ele colocou publicamente em xeque o comprometimento de Cueva com o São Paulo, teve conversas francas e diretas com o peruano, e agora vê o meia retomar a condição de protagonista dentro de campo.
O executivo também trabalhou nas contratações de seis reforços para o São Paulo: o goleiro Jean (a conversa havia sido iniciada por Pinotti), o zagueiro Anderson Martins, o meia-atacante Nenê, e os atacantes Tréllez, Diego Souza e Valdívia (empréstimo). Ele teve o auxílio do gerente Alexandre Pássaro nas negociações.
Curiosamente, o São Paulo tem interesse na contratação de um jogador do Santos. Por indicação do técnico Dorival Júnior, o Tricolor está de olho no lateral-direito Victor Ferraz, em baixa na Vila Belmiro. Como os clubes estão "em família", as conversas podem acontecer com mais tranquilidade.
– Nenhuma negociação será facilitada por nossa relação familiar, porque obviamente estaremos pensando em defender os interesses dos nossos clubes respectivos. O que pode acontecer apenas é ter nosso contato direto facilitado – explicou Raí.
Desde que assumiu o cargo de diretor-executivo do Santos, no começo desta temporada, Gustavo tem sido discreto. Suas declarações foram raras e se restringiram às poucas entrevistas coletivas das quais participou. Na apresentação, ao ser questionado sobre o tio Raí, respondeu da seguinte maneira:
– Não sei, faz um mês que não falo com ele. É meu rival – brincou.
Com pouco dinheiro para investir, Gustavo apostou na busca por atletas por empréstimo, como nos casos de Gabigol e Eduardo Sasha, titulares do time, e do lateral-esquerdo Dodô, que ainda depende da aprovação em exames médicos para ser oficializado.
A estratégia, porém, não funcionou com um dos principais alvos do clube, o meia argentino Lucas Zelarayán, do Tigres, do México. A negociação se arrastou por semanas, sem sucesso – os mexicanos só topavam uma transferência definitiva.
Gustavo recebeu grande poder do presidente José Carlos Peres e tem centralizado as decisões do futebol. Tem, em sua estrutura, o ex-zagueiro William Machado como gerente de futebol, além de um gerente administrativo.
Caminhos cruzados
Sócrates ensina os primeiros passos ao filho Gustavo Vieira, atual diretor de futebol do Santos (Foto: Divulgação/CEDOC EPTV Ribeirão)
A ligação entre Raí, Gustavo e Sócrates extrapola o ambiente familiar. O futebol e o jornalismo esportivo também os uniu.
Nos anos 2000, Gustavo foi comentarista da "ESPN Brasil", e Raí exerceu a mesma função na "Record". Hoje, eles dividem a experiência de gerir dois grandes paulistas.
Ao lado do pai Sócrates, Gustavo também escreveu colunas para o jornal "Folha de São Paulo". Raí, por sua vez, foi colunista do "Estado de São Paulo".
Na infância, Gustavo tentou trilhar o caminho do futebol (veja a imagem do ainda garoto ao lado do pai Sócrates). Segundo volante canhoto, ele atuou nas categorias de base do São Paulo e chegou a ser profissional na Portuguesa, mas preferiu a carreira acadêmica. Formou-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), com especialização em Gestão do Esporte pela Fundação Getúlio Vargas.
O GloboEsporte.com procurou o Santos para entrevistar Gustavo, mas não obteve resposta.
Gustavo Vieira na infância: sobrinho de Raí foi executivo do São Paulo e agora comanda o Santos (Foto: Reprodução/EPTV Ribeirão)
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