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Müller: 'joguei fora o que construí em 20 anos de carreira'

em entrevista por telefone ao Marca Brasil, um doce e constrangido Müller aceitou relatar o seu drama, como “um exemplo a não ser seguido”.

Até que ponto as dificuldades financeiras mudaram sua vida?

Müller: Sempre tive o futebol como meio de sobrevivência. E é assim até hoje. Mas não estou passando fome. Errei muito na vida. Tive bons momentos financeiros, mas errei. Fiz muita bobagem. Gastei tudo com besteira.

Com que besteira?

Müller: Com mulheres… Não sei se é bom dizer isso. Ah, mas é a verdade. Pode escrever aí que eu gastei com mulheres, com carros e etc. Gastei com vaidades pessoais. Gastei dinheiro com amigos, entre aspas. Amigos de ocasião. Por eu ser uma pessoa generosa, muita gente se aproveitou mesmo de mim.

Onde, aos 45 anos, encontra força?

Müller: Estou cheio de saúde e pronto para recomeçar. Acertei com uma grande rádio e novamente com a SporTV para comentar o Brasileiroe ja estou comentando os jogos. Tenho vigor para recomeçar do nada. Estou muito feliz com o convite que recebi hoje para trabalhar. Era um objetivo voltar a ser comentarista.

E a família, vive bem?

Müller: Minha mãe e meus seis irmãos levam uma vida normal. Tenho três filhos: Luis Müller, 23 anos, Mateus Müller, 18, e Gabriel Müller, 14. Meus filhos moram num apartamento próprio, o que é um alívio pra mim. Pelo menos isso, né?

Você não tem nenhum imóvel?

Müller: Comprei vários imóveis ao longo da minha vida. Só fui perdendo, perdendo, perdendo… Hoje, não tenho nenhum.

Você tem algum bem material?

Müller: Não, eu não tenho nada.

Tem plano de saúde?

Müller: Também não tenho.

Acha importante falar sobre esse assunto?

Müller: Não é fácil. Tenho dificuldades financeiras, sim. Espero que os jovens que estão começando não repitam o meu erro. O que eu quero agora é que Deus me dê força para recomeçar do zero. E ele está dando.

Você tem noção de quanto dinheiro ganhou?

Müller: Não, mas foi muito. Nem sei calcular quanto perdi. Não sei se deveria dizer, mas eu perdi milhões. Perdi tudo que consegui no futebol. Joguei fora o que construí ao longo de 20 anos. Tenho caráter e isso não tem preço. É por isso que admito estar passando por isso.

Você era pastor. Que fim levou a igreja?

Müller: Vendi o terreno e repassei a igreja. Mas pretendo no futuro abrir outra.

Não tem carro?

Müller: Não tenho carro.

Teve quantos?

Müller: (Risos) Tive um monte de carros… Nossa! Muitos!

Mais de 20?

Müller: Com certeza, tive bem mais do que 20 carros.

Faltou orientação?

Müller: Pode até ser, mas isso não justifica o meu erro.

Telê Santana não puxava a sua orelha?

Müller: (Risos) Puxava direto. Ele era um paizão. Mas… Olha, eu tomei decisões erradas. Fiz as piores escolhas. Foi isso.

Gastou com drogas?

Müller: Ah, isso não. Graças a Deus, nunca usei. Eu nunca fumei nem mesmo um cigarro.

Você mora na casa do Pavão e está construindo um “puxadinho” na parte de cima. A ideia é ter um pouco mais de privacidade?

Müller: É, sim. Somos amigos, eu morava de aluguel e estava sempre na casa dele. Então, o Pavão me chamou pra morar lá. Faz uns seis meses que estou na casa. É boa. São quatro quartos e fica no Morumbi.

De todas as perdas, sente mais falta de quê?

Müller: Futuramente, quero comprar um carro. Quem não tem carro em São Paulo está morto. Fora isso, nada me faz falta.

Anda de ônibus?

Müller: Não ando de ônibus porque tenho vários colegas que têm carro. O próprio Pavão tem um. Então, a gente está sempre saindo junto.

Sente saudade do tempo em que tinha dinheiro?

Müller: Deus me dá o privilégio de ter as coisas básicas de que preciso. Tenho casa, roupa e comida. Tenho o que uma pessoa precisa para viver.

Alguma mágoa com o futebol?

Müller: Posso dizer que eu não sou exemplo pra ninguém. O futebol me proporcionou tantas coisas boas que não posso me queixar de nada. Tenho um nome e fiz uma história.

Quando começou a dificuldade financeira?

Müller: Foi depois que eu saí da TV, em 2009 (era comentarista do SporTV).

Depois de trabalhar na TV, você foi treinador do Imbituba, de Santa Catarina. Quanto ganhava lá?

Müller: Não preciso falar. Trabalhei lá de novembro do ano passado até abril. De 18 jogos, o time ganhou apenas três. E caiu para a Segunda Divisão. Sabe quando você vai apartar uma briga e acaba apanhando? Foi mais ou menos o que aconteceu comigo.

Tem saudade dos tempos de jogador?

Müller: Não tenho saudade do futebol, nem da vida de rico que levei. Só tenho boas lembranças e isso é suficiente. Curti o que tinha que curtir. Agora, acabou.

Fez amigos?

Müller: Tenho dois. O Pavão e o André Luís, que também jogou comigo. Você sabe… Não se faz muita amizade nesse meio.



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