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Três Rogérios

Não conheço o cidadão Rogério Ceni, aquele que vai ao mercado, paga as contas, cuida das filhas. Não cabe a mim, portanto, julgar o cidadão. Não sei se Rogério é arrogante, se é gente boa, não faço ideia se ele prefere cerveja a capirinha, se toma água com gás, se gosta de chocolate preto, branco, ou dos dois.

Tenho amigos que são amigos de Rogério e falam muito bem dele. Mas isso não vem ao caso, simplesmente porque a vida de Rogério Ceni - e de todos os outros jogadores do mundo - fora dos gramados não é notícia. A menos que os atos extracampo interfiram no desempenho e no trabalho dos jogadores.

E isso eu não me lembro de ter acontecido com o goleiro do São Paulo. Sobre este Rogério, portanto, não há nada a ser escrito.

Cabe à imprensa, portanto, falar do que Rogério faz enquanto trabalha: o relacionamento com os colegas, a atenção aos fãs, o comportamento durante as partidas, por exemplo.

Sobre o relacionamento de Rogério com os colegas, a atenção dada aos fãs e o comportamento durante as partidas, há muito a ser escrito. Mas fiquemos com três histórias breves, uma sobre cada tema.

Rogério Ceni: nem herói, nem vilão, apenas humano
Primeiro ato. Rogério está em um programa de TV e responde às perguntas com um tom que lhe é peculiar. Para os fãs do goleiro, ele fala com segurança; para os detratores, é arrogância pura. A discussão é levada a uma mesa de bar, é uma madrugada de meio de semana e, daquelas coisas loucas da vida, um ex-jogador do São Paulo entra no estabelecimento. O álcool aumenta, a coragem vai junto, e a mesa começa a sabatinar o ex-atleta são-paulino. Ali pelas tantas, surge a pergunta: "E o Rogério Ceni, é gente boa?". O jogador ri, sem graça, fica em silêncio por um par de segundos, e diz: "Valeu galera, até mais."

Segundo ato. O São Paulo joga com o Atlético Goianiense, no Serra Dourada, pelo Campeonato Brasileiro. Na saída para o ônibus do São Paulo, um pai espera, de mãos dadas com a filha, por um aceno de Rogério, o maior ídolo esportivo da garota, de seus 8 ou 9 anos. Rogério passa, o pai chama, e - supresa - o goleiro para. Para e conversa, tira uma foto com a garota, dá um abraço e entra no ônibus. Mas, que azar!, a câmera estava desligada, e o pai, nervoso, não percebeu. Desesperado, ele corre até a porta do ônibus e explica a situação ao segurança. Rogério vê a movimentação, vai até a porta, sai do ônibus e tira mais uma, duas, dez fotos com a garota. Agora, com a câmera ligada.

Terceiro ato. O São Paulo enfrenta a desconhecida LDU de Loja pela Copa Sul-Americana. Os equatorianos não têm habilidade para vencer; os brasileiros não têm vontade. Rogério, insatisfeito com o desempenho da equipe, clama por mudanças ao técnico Ney Franco. O goleiro pede Cícero como referência no ataque; o treinador coloca Willian José. E, na entrevista coletiva após o jogo, Ney Franco diz que não gostou da ingerência. "Cada um na sua", diz.

Rogério é amado por muitos, odiado por outros tantos. É seguro para uns, arrogante para outros; para um grupo, ele dá palpites para ajudar o time, para outro a ideia é derrubar o treinador. Rogério é, na opinião dos próprios são-paulinos, o maior ídolo da história do clube. É, sem precisar de opinião de ninguém, o goleiro que mais fez gols na história do futebol.

Só que, nesse jogo entre fanáticos de ambos os lados - os que amam e os que odeiam - todos deixam um ponto de lado. Rogério não é preto nem branco. Rogério é cinza, tal qual todos os seres humanos que conheço, tal qual todos os que imagino existirem.

Rogério erra e acerta; toma frangos, faz grandes defesas, tem jogos memoráveis, outros menos, bem menos. Rogério pode errar e isso não faz dele menos goleiro, também não deveria fazer menos ídolo.

Rogério não precisa de defensores ávidos, nem de corneteiros de plantão. Talvez ele só precise mostrar um pouco mais do que é: nem arrogante, nem humilde; nem santo, nem demônio; nem genial, nem idiota. Apenas, e tão somente apenas, humano.

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