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Exclusivo: Estrelas do futebol perguntam e Rogério Ceni responde



São 999 jogos, 103 gols, dezenas de recordes. Só uma coisa Rogério Ceni não sabe contar: o número de entrevistas.

Titular do São Paulo desde 1997, ano em que o LANCENET! nasceu, o goleiro já falou ao site na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Por isso, o LNET! inovou e “contratou” novos repórteres.

Nesta quarta-feira, 7 de setembro, dia em que completa mil jogos pelo Tricolor, contra o Atlético-MG, no Morumbi, Rogério responde dúvidas de amigos, ex-técnicos, ídolos...

Gente que, direta ou indiretamente, fez parte da trajetória milenar.

Romário: Você compara a emoção do milésimo jogo à que sentiu quando fez o centésimo gol?
Gol é uma emoção imprevisível e o Romário sabe, é o maior centroavante que vi. Não tem como se preparar, é uma fração de segundos, por isso uma emoção tão grande. O milésimo jogo você prevê, é bacana por ser um fato histórico.

Paulo Autuori: Como você, que sempre quer estar em campo, se sentiu quando eu decidi poupar os jogadores durante o Brasileiro de 2005, na preparação do Mundial?
Ele poupou os sete jogadores que mais haviam jogado, mas pedi para jogar. Não me sentiria confortável, como goleiro, em ter folga. Foi uma decisão correta e corajosa, ele assumiu responsabilidades, mereceu ainda mais o título. O Paulo me fez acreditar, às 23h do dia anterior, que eu poderia ser campeão mundial. Com capacidade e diálogo.

Falcão: O gol mais bonito desses mil jogos foi contra a Universidad (CHI), na Libertadores de 2005? Se foi, fico muito feliz por ter participado desse momento especial.
Um abraço, Falcão! Com certeza está entre os três mais bonitos, com o da final contra o Santos, em 2000, e um contra o Coritiba, na Copa dos Campeões. Foi o mais distante, o que bati com maior precisão.

Muricy Ramalho: Você vai ser técnico depois de parar de jogar?
Acho que não, é muito difícil que aconteça, mas se eu for, quero ter tanto brilho e conquistas como ele. Se acontecer, vou tirar muitas coisas que aprendi com ele ao longo desses anos de convívio no clube.

Felipão: Rogério, você não ficou nem um pouquinho bravo comigo por não ter jogado na Copa-2002?
Muito pelo contrário, aprendi a ter admiração enorme por ele. Eu fui convocado pela primeira vez duas ou três listas antes da definitiva e me apresentei machucado, mas quis estar presente. Não o conhecia, fiquei surpreso, ele preza valores importantes. Ele tinha contato e conhecimento maior do trabalho do Marcos, que vivia momento muito bom, assim como o Dida. Nós três nascemos no mesmo ano, tínhamos experiências parecidas de campo, trabalho e vida. Só fico chateado com o Felipão quando ele, como adversário, quer ganhar do meu time. Na Seleção, sou grato por ter me proporcionado participar de um grupo campeão mundial.

Marcos: Qual emoção é maior? Defender um pênalti ou fazer gol?
O gol, até para um goleiro, é especial. Fico triste de não ser um camisa 9, que passa por isso mais vezes. É um momento de explosão, o estádio inteiro vibra, o mais fascinante e importante do futebol. O Marcão precisa fazer gols antes de acabar a carreira para sentir a diferença.



Luis Fabiano: Como vai ser para um cara tão cheio de ambição e sede de novos títulos, quando tiver de parar de jogar futebol?
Triste, ainda mais agora que o Luis chegou. Estaremos juntos até o fim do ano que vem. Depois não sei se continuo, mas ele continuará. O desafio será me motivar e tentar vencer em outras áreas, dentro ou fora do futebol. Pessoas públicas têm reconhecimento maior, mas você pode ser o grande herói dos seus filhos ou da pessoa que trabalha junto. É preciso ser um grande cara, grande pessoa, vencedor, que mergulhe a fundo no que deseja, assistido por milhões ou dentro de casa. Mas será extremamente triste.

Kaká: Você aprendeu mais nas vitórias ou derrotas? Qual a maior lição que tirou para sua vida?
Talvez as lições das derrotas sejam mais doloridas, mas fiquem por mais tempo. A vitória ensina coisas gostosas, mas às vezes confunde. Aprendo em todos os jogos, treinos. Desde o primeiro dia em que fiquei no banco, quando treinei pela primeira vez no profissional. Era tão diferente... Você ligava para os pais e contava. Quando jantei pela primeira vez no CT, pensei: nunca mais quero ir embora! Na base a gente treinava na terra e aqui o Telê cuidava do gramado. Aprendi com tudo e todos, inclusive com o Kaká. Pena que ele foi embora tão cedo.

Zetti: Quais as diferenças do goleiro de hoje para o de nossa época? E em quais goleiros do Brasileiro você vê potencial para defender a Seleção numa Copa do Mundo?
Zetti é irmão! Convivemos diariamente por quatro anos e tive formação muito boa. Por ele, tive paciência para ficar 205 jogos na reserva. O treinamento evoluiu, os goleiros estão mais rápidos, têm senso do que acontece fora da área, e fundamentalmente o trabalho com os pés. Mas havia goleiros técnicos, como Zetti e Ronaldo, que jogariam hoje. Gosto do Márcio, do Atlético-GO, fez gol outro dia. O Victor (do Grêmio), apesar do momento difícil, merecia estar na Seleção. Não se pode tirar um goleiro por quatro ou cinco falhas se há convicção. Fico feliz de ver o Julio Cesar no Corinthians, menino que batalhou muito; o Diego Cavalieri em seu retorno ao Fluminense; o Marcos jogando mais do que nos últimos anos pelo Palmeiras; o Fábio (do Cruzeiro) convocado para a Seleção. Gosto de muita gente e vou esquecer nomes.

Miranda: Como você mantém tanta dedicação durante mil jogos e 21 anos estando no mesmo lugar?
É o que escolhi para minha vida. Minha paixão é jogar futebol e ela se multiplica por eu jogar no clube que aprendi a amar. A cada dia me fascinou mais a história de seguir no mesmo lugar. Trato cada 90 minutos como se fossem os últimos. Eu quero ganhar, não me acomodo com o que passou. Passado é importante no dia em que parar. Até lá, é necessário construi-lo para que seja rico. E o que me fez manter essa motivação foram grandes atletas. Miranda e Lugano são os maiores zagueiros com quem joguei.

Zico: Qual foi o episódio mais engraçado ou curioso que ocorreu antes de um desses mil jogos?
Zico... Um dos maiores jogadores da história do Brasil. Agora me veio à cabeça um episódio. Nós já estávamos classificados para a final do Mundial e fomos assistir à outra semifinal, entre Liverpool (ING) e Saprissa (CRC). Estava muito frio, ficamos cobertos, enfileirados numa tribuna. Todo mundo torcendo para o Saprissa, aí começa: Um, dois, três a zero para o Liverpool... Eu vi o momento tenso, virei para os jogadores e brinquei: “Pô, vocês queriam vir até o Japão e ser campeões mundiais em cima do Saprissa? Isso seria até ruim, ninguém iria reconhecer esse título (risos)”.

Mauro Beting: Parabéns pelo recorde e, entre tantas marcas, qual você não imaginava conseguir? Qual não cogitou nem em sonho?
Em 1993, eu vi o São Paulo ser campeão da Libertadores e do mundo. Tive desejo muito grande de voltar a essa situação como titular, mas os anos foram passando e achei que não seria possível. Ganhar a Libertadores e o Mundial como goleiro, capitão, foi um dos maiores e mais difíceis sonhos realizados. No começo da carreira eu fazia poucos gols, até 2004 eram trinta e poucos. Jamais imaginava chegar aos cem, isso se multiplicou. E por dois anos, 2005 e 06, fui artilheiro do São Paulo na temporada: 21 e 16 gols. Um clube que teve Luis Fabiano, França, Careca, Serginho, tantos camisas 9, ter um goleiro como artilheiro em dois anos seguidos? Talvez, seja a marca mais impressionante.

André Kfouri: Por tudo que você representa, não acharia justo que o São Paulo aposentasse a camisa 1 depois que você parar de jogar?
Seria especial, mas acho que não deva acontecer porque Zetti, Waldir Peres, Gilmar, Poy, Sérgio Valentim, King... Todos foram grandes. Tive a honra de usar a camisa que eles usaram. Talvez caia o zero do “01”, mas a camisa deve ser usada para que as pessoas que ocuparem essa posição saibam que grandes goleiros fizeram a história do clube. Fico feliz de ser um deles.

Alexandre Lozetti: Você se coloca em condições de igualdade com atuais e antigos companheiros, outros ídolos. Mas ninguém tem seus números e recordes. Você precisa se esforçar para não parecer tão grande quanto é? Por que faz isso?
Passei quase 60% da minha vida no São Paulo. Questionam por que não vou tanto às entrevistas coletivas. Depois de jogos, só não falo quando estou muito nervoso com uma derrota e posso falar coisas das quais me arrependa. Aprendi com o tempo que é melhor ficar em silêncio. Mas o São Paulo precisa expor novos pensamentos, esses meninos que estão começando, para que o torcedor entenda a lógica, a postura deles, saiba o que pode esperar. E para que os outros se sintam tão responsáveis quanto eu. Eu carrego um peso muito grande, se o time perde, não saio de casa. Minha vida é restrita, brinco com as crianças dentro de casa para que elas tenham liberdade de vida, não sejam envolvidas em confusões, conflitos. Elas são muito novas (as gêmeas Clara e Beatriz têm seis anos). Tenho espaço grande no coração da maioria dos são-paulinos, mas tenho de me colocar em condições iguais. Não quero privilégios. Hoje é uma festa para o torcedor, mas não posso me perder, vou trabalhar. Acredito que eu possa propiciar uma festa ainda maior com vitória. Treino igual aos outros, nunca peço para não concentrar, não falto. Se você é grande, não é pelas palavras, mas por atitudes e exemplos. Não é fácil seguir uma linha como segui por tantos anos, mas é o único modo de ter respeito das pessoas. Tento agir como um menino que chega ao profissional no primeiro dia.


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