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Ídolo dos tris, Rogério Ceni alcança quatro dígitos no São Paulo

É comum ouvir e falar que algo "já foi feito mil vezes". Às 16 horas (de Brasília) desta quarta-feira, Rogério Ceni provará no Morumbi que a expressão pode ser usada na prática. O principal são-paulino do século, recordista de jogos, que já fincou sua história no tricampeonato brasileiro consecutivo e nas terceiras conquistas da Libertadores e do Mundial para o clube, atinge um quarto dígito que simboliza exagero, não fosse um registro histórico.

Pela milésima vez, Rogério Ceni entrará em campo pelo Tricolor. Desde outro 7 de setembro, em 1990, quando ele foi aprovado para atuar nas categorias de base da equipe, uniformes mudaram, competições disputadas foram extintas e algumas até ressuscitadas, trocaram os partidos nos governos municipal, estadual e federal. Mas o goleiro, personificação da exceção, ficou inerte.

No seu caso, porém, inércia não é sinônimo de "não se mexer". Nascido em Pato Branco (PR) e criado desde a infância em Sinop (MT), mudou de Estado pela última vez na vida para morar em São Paulo há 21 anos. Nos jogos, contudo, suas movimentações foram além dos tradicionais passos que goleiros dão dentro do limite da grande área. Por 103 vezes, atravessou o campo para colocar as bolas nas redes adversárias. E fez da superação um exercício de rotina.

O estádio do Morumbi, sua primeira casa na capital paulista, lotado só para reverenciá-lo no confronto desta quarta-feira contra o Atlético-MG, será o ápice de uma parceria com os são-paulinos iniciada à distância, na Espanha, em 1993, com a conquista do Torneio Santiago de Compostela, competição amistosa, com direito à defesa de pênalti em sua estreia e no jogo seguinte, na decisão daquele campeonato.

Desde então, Rogério Ceni e São Paulo Futebol Clube tornaram-se um só. A ponto de, ainda em 1993, ele ter encurtado a folga que tinha direito pela morte de sua mãe, por causa de um câncer, em Chopinzinho (PR), para atender ao pedido da diretoria e ir à Espanha defender um Tricolor que não tinha goleiro por conta de uma indisciplina de Gilberto, arqueiro prontamente dispensado por Telê Santana. Em 2002, Rogério teve atitude similar ao abrir mão de suas férias após a Copa do Mundo para ajudar a equipe na Copa dos Campeões, no Nordeste.

Tudo feito com a mesma satisfação que demonstrou ao conquistar o primeiro título que valoriza - e que considera fundamental para sua trajetória -, a Copa Conmebol de 1994 com o "Expressinho Tricolor", quando comemorou com uma cambalhota que quase o fez perder a medalha de campeão. Alegria que se multiplicou quando Zetti, seu modelo a ponto de fazê-lo jogar com calças no início da carreira, deixou para ele, no fim de 1996, o posto de titular que tanto cobiçou.

Se foram sete anos de espera, o arqueiro que hoje é chamado de mito precisou de outros sete de provações. Perdeu espaço na Seleção Brasileira ao se revoltar com brincadeiras e críticas. Embora campeão paulista em 1998 ao lado de Raí, ídolo maior de muitos torcedores do clube, no mesmo ano foi proibido pelo técnico Mário Sérgio de bater faltas e pênaltis, logo ele que em 1997 havia feito história com seu primeiro gol.

Ainda em 1998, passou a usar por baixo do calção uma bermuda de neoprene que veste até hoje, embora jure não ser um amuleto. Sorte, realmente, ela não deu no início. Já estava liberado para bater faltas, mas foi logo uma cobrança que lhe tirou o título da Copa do Brasil de 2000, diante do Cruzeiro. Um ano mais tarde, frustrou-se com o próprio clube ao ser suspenso por 28 dias pela diretoria, acusado de inventar uma proposta do Arsenal, da Inglaterra, para ganhar aumento.

Após fazer parte da Seleção campeã da Copa do Mundo de 2002, parecia que viveria a glória que sonhou quando, em 2003, mesmo comandado por Roberto Rojas, de quem não esconde ter mágoa por não ajudá-lo quando estava suspenso pela diretoria dois anos antes, levou o time de volta à Libertadores. Mal sabia que passaria por seu pior momento: logo depois da eliminação nas semifinais do torneio continental, falhou em derrota para o Palmeiras e foi vaiado no Pacaembu.



Naquele momento, o capitão chorou e só não deixou o Morumbi porque a gestão atual nem aceitou discutir a ideia. Sorte do Tricolor. E de Rogério Ceni, enfim. A tristeza foi totalmente apagada quando ele ergueu a taça da Libertadores de 2005, troféu pesado que representava espírito mais leve ao goleiro. No fim daquele ano, venceu as dores no joelho para ser campeão mundial, desta vez como titular no Japão, diferente do que ocorreu com ele no próprio São Paulo, em 1992, e na Seleção, em 2002.

A rotina da superação ganhou como acréscimo o costume de ser campeão. Em 2006, recompensou sua pior falha, na final da Libertadores vencida pelo Inter, com o recorde de goleiro com mais gols na história do futebol mundial. Naquela temporada, ainda iniciou a conquista de três Brasileiros consecutivos.

Incontestável, renovou seu contrato em fevereiro de 2009 até o fim de 2012. Dois meses depois, sofreu a pior lesão da carreira ao fraturar o tornozelo esquerdo, mas voltou antes do previsto, em agosto, disposto a evitar novo período de vacas magras. Se já tinha conquistado quase tudo o que podia coletivamente, firmou-se na história de forma individual.

A palavra superar, a partir de então, passou a ser seguida por recordes para Rogério Ceni. De forma exagerada com o centésimo gol e o milésimo jogo alcançados em 2011 após 120 partidas seguidas como titular desde janeiro de 2010. "O milésimo jogo acontece porque aconteceram outros 999 antes. Não tenho culpa. Aconteceram pelo meu trabalho, pela minha dedicação", contou o goleiro, incansável.

Aos 38 anos e com consistente recusa em definir data para se aposentar, Rogério Ceni ainda busca aliar recordes a títulos de novo. Nas palavras de um são-paulino típico, o goleiro de quatro dígitos quer conquistar a América do Sul pela quarta vez. "Meu desejo é esse: voltar à Libertadores no ano que vem e tentar ser campeão. Esse é o meu projeto. Já faz seis anos que vivemos aquele momento e quero passar por isso de novo."

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