Em novembro do ano passado, Adilson Batista assumiu compromisso com o Santos. Ficou dois meses vendo de longe o time de garotos que havia encantado o Brasil no primeiro semestre e, também, custado o cargo de Dorival Júnior para transformá-lo em campeão da Libertadores. Assumiu em janeiro, mas o trabalho na Vila Belmiro durou só 11 jogos. A tarefa foi repassada - e cumprida - por Muricy Ramalho. Exatamente o seu rival neste domingo.
Desde a saída do Peixe, o treinador ainda teve uma passagem sem sucesso pelo Atlético-PR e, hoje, está à frente de um São Paulo que ainda não conseguiu ser campeão desde a demissão do próprio Muricy, há mais de dois anos. Sombra e, ao mesmo tempo, sucessor eficiente, o comandante do Alvinegro é obviamente admirado.
"Sempre admirei o Muricy, conversamos várias vezes. É um profissional capacitado, vencedor, trabalhador. Se você não está na final, torce pelo sucesso dele", comentou Adilson, curiosamente ausente da decisão da última Libertadores por ter sido demitido em fevereiro e, semanas depois, substituído por Muricy.


Cadeira no CT Rei Pelé que era de Adilson no início da temporada hoje é ocupada, com sucesso, por Muricy


O duelo à parte demonstra, na comparação das carreiras, o sucesso do mais experiente. Ídolo do clube pelo qual torcia na infância, tendo conquistado três títulos brasileiros à frente da equipe (em 2006, 2007 e 2008), Muricy vem alcançando sucesso em sua passagem no Peixe. Afinal, em menos de cinco meses, o treinador já conquistou o Paulistão e encerrou um jejum de 48 anos sem ganhar o título da Libertadores.
Os currículos, entretanto, não têm pesado quando os técnicos se enfrentam. Nas quartas de final da Libertadores de 2009, por exemplo, o Cruzeiro de Adilson eliminou o São Paulo de Muricy, ocasionando a saída do treinador. Destinos que se cruzam, mas não atrapalham a amizade à distância que ambos juram existir.
"Somos amigos mais de falar por telefone, celular ou rádio mesmo. Como ficamos longe um do outro, não tem como ter uma amizade mais próxima. Mesmo assim, trocamos muitas informações. Já liguei para ele perguntando algumas coisas do Santos e ele sobre os times que depois foi assumir", contou Muricy.
Um dos treinadores mais vitoriosos do futebol brasileiro, ele ainda aproveitou para reservar elogios especiais ao oponente no clássico deste fim de semana. "Ele é um cara da nova safra, competente, estudioso e correto. Esse é o estilo dele e acho que escolheu o time certo e está aproveitando, se dando bem", destacou o comandante do Santos.
Sobre o reencontro com a torcida do Tricolor, com a qual mantém boa relação, o treinador do Alvinegro reforçou o apreço ao São Paulo junto com a promessa de empenho pela vitória. "Esse carinho deles por mim nada mais é do que reconhecimento ao meu trabalho. Ando na rua e os são-paulinos sempre me tratam bem, esperam que eu volte um dia, porque sou um cara que visto a camisa e trabalho duro. Só que hoje não estou mais lá. Gosto do clube, tenho carinho por todos, mas estou no Santos e vou fazer o possível para ganhar."

Djalma Vassão/Gazeta Press

dilson tem trabalho para montar o São Paulo, que ainda não foi campeão desde a saída de Muricy, em 2009

O "vestir a camisa" que Muricy tanto defende até inspira Adilson, que frequentemente se policia durante as entrevistas para não repetir o bordão "Aqui é trabalho" que marcou Muricy no Morumbi. Na busca por triunfo diante do admirado, tenta tirar proveito do meteórico período no Peixe, quando aprovou os reforços que formaram o elenco campeão da Libertadores.
"Há muita coisa boa, muitos pontos fortes no Santos. É evidente que é bom ter trabalhado no adversário, você conhece as características dos atletas. Mas não quer dizer que vou vencer ou tirar vantagem. Passarei informações e espero que estejamos consciente", falou, com um aviso claro de iniciante para experiente. "Vamos nos enfrentar de novo e espero vencer. O Muricy está com a vida ganha, tem um compromisso importante em dezembro...", disse, lembrando da disputa do Mundial de Clubes.