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‘Made in Cotia’: por jogadores mais completos, São Paulo abole 3-5-2

Medida adotada no CT do clube com mais jogadores na Seleção Sub-20 visa a ampliar conhecimento técnico e tático no processo de formação


“Craque made in Cotia”. A inscrição gravada no currículo de quatro dos 21 jogadores que representarão o Brasil no Mundial Sub-20, a partir do fim deste mês, na Colômbia, deixa a certeza de que o São Paulo é uma das referências no trabalho de base no futebol brasileiro. Dono do mais completo centro de treinamento para as categorias inferiores, o clube tem como preocupação preparar o jogador para consumo interno e externo. Ou seja, estar pronto para defender as cores do Tricolor paulista não é suficiente, é importante fabricar talentos tipo exportação.

Vice-campeão da Copa Brasil Sub-15, a equipe do Morumbi mostrou no interior do Paraná, com a primeira categoria que disputa competições, o passo inicial de um trabalho que revelou nomes como Kaká e tem como exemplo a ser seguido Lucas, que disputou a última Copa América pela Seleção principal. E se a preocupação social e educacional, com escola particular, reforço escolar, aulas de inglês, acompanhamento de psicólogos e assistentes sociais, é responsável pela formação do cidadão, em campo uma medida diferente trata de formar o chamado jogador global: a proibição de esquemas com três zagueiros.

São Paulo Sub-15: fãs de Neymar, mas na escola de Lucas (Foto: Pedro Veríssimo / Globoesporte.com)

Conduta curiosa para quem dominou o futebol brasileiro nos últimos anos atuando exatamente no 3-5-2, mas aprovada por quem implementou esta filosofia no time de cima:
- O próprio Muricy, que jogava com três zagueiros, ia na base e orientava a não usarmos. Exatamente por ser um esquema que não é de formação, mas de busca por vitórias. Por isso, nossos treinadores não têm a cobrança e a obrigação de buscar resultados, mas, sim, de formar jogadores – explica Marcelo Lima, coordenador das categorias de base são-paulinas.

Para o clube, o modelo Barcelona, que prima por um estilo padrão de jogo desde a chegada do jovem atleta ao Camp Nou até os profissionais, não cabe em um futebol ainda refém da venda de jogadores como o brasileiro. Preparar para defender o São Paulo é, sim, importante, mas praticamente restringi-lo às características tricolores é inviável.

- O Barcelona forma o jogador para jogar no Barcelona. Já o futebol brasileiro ainda é dependente do mercado exterior. Então, não posso formar um atleta pensando em utilizar somente para mim. Essa gama de opções serve para isso. Temos que formar primeiro para o profissional e depois para o mundo – justifica Lima

A medida, tomada em 2006, tem como objetivo abrir o leque de opções tanto para o próprio atleta quanto para os treinadores. Comandante do Sub-15 do São Paulo, Menta explica de que forma o 3-5-2 restringe o crescimento de um jogador ainda em formação.
- O 3-5-2 limita muito os jogadores e é muito complexo para se jogar. A adaptação deste sistema depende de zagueiros com muita inteligência tática e acabamos engessando os meias. Não dá para atuar com dois meias. Se fizer isso, tem que tirar um atacante. Então, começa a limitar as posições. Paramos de formar laterais que apoiem e fechem a zaga com qualidade. Fica um sistema mais para não tomar gol. Mas, para formação, atrapalha o crescimento cognitivo do menino. Ele vira um robô em campo. Já nos esquemas com uma linha de quatro variamos mais as opções e formamos jogadores com entendimento mais global.

O coordenador Lima complementa o raciocínio.

- Nossa missão é formar o jogador completo e dar a opção para que o treinador decida como utilizá-lo. O São Paulo faz o jogador para que ele esteja apto a atuar em qualquer lugar do mundo e com qualquer profissional. No 3-5-2 não conseguimos formar isso. Na linha de quatro, o lateral apoia, marca e faz cobertura. Isso acontece também com zagueiros. As funções táticas são mais abrangentes.

Procuram-se meias e laterais


Apesar dos detalhes coloridos, chuteiras devem ser
predominantementes nas cores do São Paulo
(Foto: Pedro Veríssimo / Globoesporte.com)

Os são-paulinos acreditam ainda que a atitude colabora por tabela para que algumas carências marcantes no futebol brasileiro nos últimos anos sejam supridas. Se Maicon e Daniel Alves surgem como dois dos melhores do mundo na lateral direita, a busca por um nome de peso no lado oposto é permanente. Assim como Ganso aparece como água em um deserto de opções para a função de camisa 10. Para muitos treinadores, a escassez é fruto da onda de 3-5-2 provocada pelo pentacampeonato da Seleção Brasileira em 2002.

- Sofremos por um tempo com a escassez de jogadores que pensam o jogo pelo crescimento do futebol força, da cultura que o principal era não tomar gol, com muitos volantes, com: “Primeiro não perco para depois ganhar”. E isso está mudando. O Barcelona é um exemplo disso. Um time que hoje busca mais jogadores de inteligência acima da média, que raciocinam a todo momento – justifica Menta.

Seja com restrições táticas ou com busca específicas de jogadores com determinadas características, o que se viu na Copa Brasil Sub-15 foi uma preocupação evidente em diminuir cada vez mais a dependência do físico para que um atleta vingue no futebol. Até mesmo a sempre tradicional escola gaúcha de futebol força tem buscado garotos mais técnicos e com entendimento global do esporte, conforme revela o treinador do infantil Gustavo Fragoso.

- Todas as comissões técnicas seguem um documento orientador metodológico, que vai servir da Sub-20 até a primeira categoria, com 10 anos, e vai definir princípios de jogo. Não é esquema tático, mas é preciso ter alguns entendimentos de jogo, se tornar um jogador mais inteligente. É isso que estamos buscando. O Grêmio há um bom tempo é visto como um time de força, de garra, mas nós, no próprio clube, temos tentado mudar isso. Tanto que temos um volante baixo e de boa técnica no nosso sub-15. E isso o fez jogar.

Avaliação de características individuais é fundamental

Bem servido tanto na lateral esquerda quanto no meio-campo, o Santos faz uso de observadores espalhados por todo o país para que não sofra deste mal. Supervisor da base do Peixe, Bebeto Stival lembra que a visibilidade dada por determinadas posições, principalmente ofensivas, acaba fechando a mente da molecada no momento das avaliações. É quando o dedo do profissional responsável pela captação de talentos se faz fundamental para identificar onde cada um se encaixa.

Apesar das normas, são-paulinos não abrem mão dos momentos de lazer e descontração (Foto: Pedro Veríssimo / GLOBOESPORTE.COM)

- É preciso procurar e ir atrás. O Brasil é um grande celeiro de talentos, mas criou-se uma ilusão de que quem ganha dinheiro é atacante. Em uma seleção hoje, 70% das crianças querem jogar nessa posição porque querem ficar ricos. Por isso, é importante orientar para que joguem em outras posições. Às vezes, temos ali um grande lateral, um grande zagueiro... É preciso observar para avaliar o perfil técnico de cada um. A busca é incessante.
Mesmo sem uma proibição como no São Paulo, o Santos tem como característica escalar suas equipes de base no 4-4-2 ou no 4-3-3, esquemas de sucesso entre os profissionais. O treinador Emerson Ballio, inclusive, compartilha da teoria dos companheiros de profissão do São Paulo.

- Há carência de laterais é muito pelo esquema de três zagueiros. Vimos muito isso na Copa Brasil. Acaba que o jogador “lateral” não é lateral, e cresce como ala.

Nem mesmo clubes criados exclusivamente para formação e venda de jogadores estão imunes às dificuldades do mercado. Eles, no entanto, buscam o tiro certo e seguem permanentemente atrás do perfil que anda em falta.

- É difícil achar um jogador que se encaixe em alguns esquemas. Temos dificuldades com lateral-esquerdo, zagueiro canhoto, camisa 10 clássico está em extinção... Futebol hoje tem o pensamento de mais força do que técnica. Por isso, pedimos para os observadores buscarem jogadores com essas características – revela Arnaldo Macedo, técnico do PSTC, clube localizado em Londrina que tem como foco o trabalho de base.

Fica a dica para os milhares de jovens pelo Brasil em busca do sonho do profissionalismo: laterais e armadores estão em extinção, mas fujam do 3-5-2.

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