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Não foi raça, foi treino

"Célôôôco, fi, ganhamo do Santos na Vila!"

"Detalhe que foi de virada, que nem no domingo!"

Acredite: estas duas simples frases exclamativas ditas por dois anônimos amigos bêbados de felicidade na noite passada (eu não revelarei suas identidades, Marko e Edu, fiquem tranquilos) contêm muito mais revelações sobre os complexos que atormentam o torcedor são paulino atualmente do que parecem. O saboroso 3x1 de ontem representou a quebra de 10 tabus de uma vez só - entre eles, o fato de o São Paulo não saber o que era derrotar o rival praiano na Vila Belmiro há 7 anos e meio e, pior, há 10 anos não vencer dois jogos consecutivos de virada como fez essa semana. Estão aí os dois maiores incômodos da nossa torcida nesta década: ter um time que se acostumou a apanhar dos rivais nos clássicos e que raras vezes demonstrou poder de reação para reverter placares adversos. Como resultado, o São Paulo cultivou a fama de ter equipes frouxas, descompromissadas ou com mentalidade perdedora por anos a fio.



Particularmente, não acho que o time de ontem tenha demonstrado mais "raça" do que os dos últimos anos; a explicação não deve residir aí, num terreno tão intangível e subjetivo. O ponto é que a vitória de ontem não foi acidental: fomos organizados e frios para seguir um plano de jogo que nitidamente vem sendo treinado. Isso não aconteceria se os jogadores não acreditassem na ideia de futebol proposta pelo técnico. Em que pese o pouco valor prático deste grande laboratório chamado Paulistão e a imensa lista de desfalques do Santos, o São Paulo conquistou sim uma vitória maiúscula ontem. Se considerarmos que nós também tínhamos baixas, que temos diversos nomes ainda para ingressar na equipe (Pratto, Jucilei, Lyanco, Foguete, Wellington Nem, Wesley e Lucas Fernandes) e que somos um time em construção diante de um conjunto santista que se conhece há quase 2 temporadas, os 3 pontos conquistados ganham outro tamanho. Se observarmos que, entre os 11 que terminaram o clássico em campo, havia cinco pratas-da-casa, percebemos os rumos que o trabalho de Rogério Ceni pretende tomar: finalmente, um treinador que valorize o patrimônio do clube. E nesse aspecto, o próprio Dorival Junior, o mais famoso revelador de talentos da base do Brasil, serve de inspiração.

Contudo, contar a história de trás para frente é sempre tendencioso. Sejamos justos, não é como se tudo tenham sido flores para nós ontem. Tivemos um primeiro tempo extremamente complicado, com a inoperância de Neílton, incapaz de reter a bola, e a afobação de Buffarini colocando a equipe em apuros defensivos. No início, Gilberto ocupou o lado direito e Cueva foi falso nove, como já haviam ensaiado nos jogos anteriores, mas desta vez sem êxito. Sidão, a exemplo do duelo com a Ponte, falhou no gol de Copete ao não interceptar uma bola que era sua. Os intrépidos Zeca e Vitor Bueno criaram muito perigo ao longo da primeira etapa. O São Paulo, contudo, não sucumbiu quando tomou o 0x1. Pelo contrário, esbanjou calma para impor sua proposta inegociável de jogo posicional com triangulações curtas, cruzamentos criteriosos na área (em vez do antigo chuveirinho) e, defensivamente, todos os jogadores ocupando um espaço de 30 metros entre o mais avançado e o mais recuado, para exercer intensa pressão no homem da bola. Assim, anulamos as principais armas do Santos e tomamos conta da partida.

Estes são os princípios básicos do São Paulo de Ceni, que ontem apresentou mais provas do seu estilo de jogo vertical e ofensivo ao executar 3 contra-ataques mortíferos com perfeição. Em todos eles, o protagonista foi Luiz Araújo, que entrou no intervalo no lugar do letárgico Neílton e foi mais uma vez o melhor em campo. Dois deles resultaram em gols; o outro, concluído por Gilberto (mais uma ótima atuação), foi salvo em cima da linha. A origem dos lances foram roubadas de bola de Araújo no meio-campo e disparadas em velocidade, rompendo as fragilizadas linhas defensivas do Santos. O fato de a equipe não ser mais dividida em compartimentos, como no ano passado, e ter clara participação de todos os 11 jogadores nas fases defensiva e ofensiva pode ser considerada uma conquista que está acontecendo aos poucos. Isso é treino, e não raça.

No frigir dos ovos, o 3x1 foi justo. Ainda que tivéssemos sofrido o empate, teríamos o que comemorar, olhando para além do placar. O bom momento e o futebol vistoso naturalmente atraem elogios de todas as partes, mas a história recomenda termos calma: há ainda muito a melhorar, a oscilação ao longo das partidas pode cobrar seu preço em jogos decisivos mais para frente; Sidão precisa passar segurança com as mãos e com os pés; não deveríamos ter de esperar o intervalo para que a equipe entenda correções de ordem tática (quem sabe Rogério não possa reviver os clássicos bilhetinhos de Osorio?), enfim.

Foram apenas 6 partidas (3 vitórias, 1 derrota e 2 empates) e a mesma precipitação em apontar tragédias após o 2x4 para o Audax deve ser sabiamente afastada agora, quando empolgados amantes da bola decretam que este São Paulo já está jogando como gente grande. Pode até ser que esteja, mas dentro e fora das quatro linhas, o time tem os ingredientes para ir muito além. Um elenco renovado e talentoso, um espírito ambicioso de reconquista do espaço perdido no cenário nacional, uma torcida apaixonada e curiosa pelo estilo de jogo ofensivo que se desenha e, claro, um treinador que dá mostras de que não veio para ser apenas mais um e que bebe das melhores fontes do futebol atual. Ganhamos um clássico difícil de virada fora de casa, e isso é ótimo. Melhor ainda é ter prazer vendo o Tricolor jogar e merecer cada ponto que conquista. Não adianta se dizer grande e depender de lampejos e lances fortuitos para ganhar; no São Paulo, convencer também é importante. Rogério parece mesmo conhecer o DNA tricolor como poucos.

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