Olten Ayres de Abreu Junior não definiu se será candidato à presidência tricolor

Filho de um dos conselheiros mais antigos do São Paulo, Olten Ayres de Abreu Junior assumiu a liderança do “Defenda SPFC”, um dos movimentos de oposição com maior representatividade no Morumbi. Em entrevista ao Blog, o filho do ex-árbitro de futebol contou os planos de seu grupo para o Tricolor, criticou o modelo adotado por Leco como presidente, falou sobre a importância da reforma estatutária, demonstrou medo do rebaixamento para a Série B do Brasileiro…

BLOG: O que significa o movimento “Defenda o SPFC”? Que grupos ele representa e por que foi criado?
OLTEN AYRES DE ABREU JR.: O movimento foi criado por conselheiros e sócios que buscam modernizar o São Paulo através de uma gestão profissional, com governança corporativa e participação direta dos associados. Queremos democracia e profissionalismo. Acabou a era do amadorismo e das decisões de conchavo no futebol.

Vocês se posicionaram fortemente na Assembleia Geral sobre o terceiro mandato do Juvenal e têm atuado como oposição ferrenha. Qual o próximo passo?
O movimento sempre defendeu a elaboração de um estatuto novo, moderno, democrático e profissionalizante. Mas naquele momento fomos contra a ratificação de todos os atos de gestão desde 2004. São milhares de atos que não conhecemos e foram considerados ilegais pela Justiça. Esses atos estão inclusive sub judice no STF.

Você será candidato à presidência do São Paulo?
Não é hora de falar de politica ou lançar candidatura. O São Paulo está vivendo um momento muito delicado e precisa do apoio de todos. Inclusive um membro da oposição, o Marco Aurélio Cunha, se colocou à disposição pelo bem do time. Uma decisão para se aplaudir. Já o Roberto Natel, abandonando o barco quando mais precisamos de todos, não está prestando serviço ao clube. É esse tipo de atitude que queremos sepultar. Pessoas que colocam as ambições e interesses pessoais acima dos interesses do São Paulo. O Natel está sendo oportunista, lançando sua candidatura a presidente quando a prioridade é manter o time na Série A. Eu me pergunto se ele teria saído da diretoria se o clube estivesse disputando o Brasileirão nas cabeças?

Qual a proposta do “Defenda o SPFC” para profissionalizar o clube?
O mundo ficou muito complexo com a globalização. O futebol europeu cresceu e se profissionalizou demais. Isso criou um abismo com a nossa gestão amadora, provocando a saída em massa de jogadores que buscam melhores salários e contratos. Cabe a nós criar condições financeiras necessárias para manter os melhores talentos. Isso só é possível através de uma gestão moderna e extremamente profissional, com os melhores profissionais do mercado. O São Paulo tem através da reforma estatutária uma oportunidade única de alcançar excelência. Depende de cada sócio do clube contribuir e votar pela modernização.

O São Paulo tem vivido em guerra política há pelo menos dois anos. Não acha que isso atrapalha dentro de campo?
Essa guerra interna não leva a lugar nenhum. O São Paulo precisa ser pacificado. Hoje os dirigentes do clube decidem tudo nos gabinetes, ignorando a opinião e a vontade dos sócios e de milhões de torcedores, esses sim os verdadeiros donos do clube.

Em que pé está o novo estatuto?
As propostas foram sistematizadas e um pré-projeto está recebendo emendas. Após votação no Conselho Deliberativo será votado pela assembleia geral em dezembro. Essa é a oportunidade para transformar e levar o São Paulo de volta a sua tradicional trajetória de vitórias.

É possível aprovar a profissionalização no novo estatuto? Quais os maiores empecilhos?
É possível e provável! Os maiores empecilhos são algumas forças do conselho que ainda acreditam num modelo autocrático de gestão fundamentado num presidencialismo absoluto, que nos levou a triste situação que vivemos hoje.

Como avalia a gestão do Leco como presidente?
A democracia é uma conquista da minha geração, na década de 1980. Não podemos defender a democracia e ao mesmo tempo o poder absoluto de monarca para o presidente do São Paulo! No mundo corporativo, as empresas mais bem-sucedidas são as que têm governança e decisões compartilhadas, ninguém sabe tudo sobre tudo. Esse modelo retrógrado, autocrático e absolutista nos levou a flertar com a segunda divisão, e a ter uma situação financeira muito ruim.

Qual sua opinião sobre o arquivamento da comissão de R$ 18 milhões do Caso Jack?
A decisão do arquivamento foi tomada pelo Conselho Deliberativo, não me cabe outra coisa senão acatá-la.

Falta transparência da diretoria em relação a esclarecimentos para o Conselho Deliberativo?
Infelizmente, sim. Contratos importantes nos são ocultados, há requerimentos de informações feitos por conselheiros não respondidos e uma clara estratégia do marketing de desinformação com fatos muitas vezes distorcidos que levam o público a impressões equivocadas.

Como avalia a situação financeira do clube?
A situação é muito complicada. Um clube com faturamento de R$ 330 milhões não poderia estar passando por dificuldades. No fundo este é mais um grave sintoma da autocracia absolutista. Temos certeza que tudo isso será superado com a grandeza do São Paulo, que tem a terceira maior torcida do Brasil, é o maior detentor de títulos brasileiros, tricampeão da Libertadores e tricampeão mundial. Todos esses componentes administrados com competência e profissionalismo não deixam dúvida que superaremos todas essas dificuldades.